Alergias a medicamentos e outras reacções adversas a medicamentos
As reacções cutâneas adversas a medicamentos (toxidermias ou vulgarmente designadas alergias medicamentosas) ocorrem em dois a três por cento dos doentes e têm uma expressão clínica muito variável, raramente trazendo a “assinatura” do medicamento. É preciso estar muito alerta e o Dermatologista necessita de ter um alto nível de suspeição para pensar nesta situação, pois a alergia medicamentosa pode simular muitas outras doenças de pele. E torna-se muito importante reconhecer esta situação e, sempre que possível, suspender de imediato o medicamento responsável, pois daí depende muitas vezes o resultado final desta alergia.
A alergia medicamentosa pode surgir ao fim de poucos minutos após a toma do medicamento, dias ou semanas depois ou, nalguns casos, até muito mais tarde, o que dificulta a relação da doença na pele com o medicamento que se está a tomar ou se tomou há dias ou semanas. As reacções imediatas de alergia medicamentosa são a urticária e angioedema, mas são mais frequentes as reacções de início mais tardio como o exantema, com envolvimento só da pele ou por vezes também do fígado e outros órgãos internos, às vezes associado a feridas na boca e olhos, o eritema fixo e a fotossensibilidade.
Os medicamentos com maior risco de causar toxidermias são os antibióticos (penicilinas e sulfamidas), os anti-inflamatórios, os medicamentos para as convulsões também usados no tratamento da depressão grave, e o alopurinol usado para baixar o ácido úrico. Mas qualquer medicamento pode ser causa de alergia medicamentosa, mesmo uma simples “Aspirina®”.
As formas mais frequentes são:
Os Exantemas medicamentosos ou maculopapulares surgem pelos 7-14 dias de tratamento, ou no dia seguinte se indivíduo já antes era alérgico e voltou a tomar o mesmo fármaco. Evoluem como um exantema viral, por vezes com febre e prurido (comichão) e são constituídos por manchas vermelhas nalgumas áreas com relevo distribuídas simétricamente no tronco e membros e progredindo da cabeça para as extremidades. A evolução é geralmente favorável em 1-2 semanas, mas nalguns casos a pele pode não ser o único órgão atingido. Podemos estar perante a chamada Síndrome de Hipersensibilidade a Fármacos que tem envolvimento multiorgânico, com febre alta, “gânglios” aumentados, hepatite tóxica, por vezes fulminante, anemia e baixa dos glóbulos brancos, ou insuficiência renal. Mais raramente a alergia medicamentosa simula uma virose simples mas ao fim de horas ou poucos dias associa febre alta, conjuntivite ou feridas no nariz, boca, lábios e na área dos genitais, a pele vermelha torna-se dolorosa e surgem bolhas de líquido que podem ocupar grande área do corpo, como uma queimadura muito extensa, o que traduz um quadro muito grave de alergia medicamentosa que pode ser fatal, a Síndrome de Stevens-Johnson ou síndrome de Lyell/Necrose epidérmica tóxica.
A Urticária e o Angioedema surgem minutos a horas após a toma do fármaco. Na urticária, as pápulas vermelhas, grandes, assimétricas e de contornos em carta geográfica, dão prurido e são migratórias (regridem em menos de 24 horas). No angioedema, as lesões são mais profundas originando edema (inchaços) da face, extremidades e genitais, duram mais tempo e causam dor. Raramente, podem acompanhar-se de edema da glote (falta de ar) e colapso cardiovascular.
O Eritema Pigmentado Fixo é uma toxidermia muito típica e de fácil diagnóstico que se caracteriza por uma, ou várias, manchas vermelhas arredondadas que regridem em poucos dias, deixando pigmentação castanha acinzentada, mas que se reactiva no mesmo local, se se tomar de novo o fármaco. Ocorre habitualmente com medicamentos tomados esporadicamente como os anti-inflamatórios.
A Fotossensibilidade, constituída por lesões das áreas expostas ao sol, ocorre com vários medicamentos como a amiodarona, os AINE, alguns antibióticos (tetraciclinas e quinolonas) e por aplicação tópica de anti-histamínico (prometazina ou Fenergan®creme) ou anti-inflamatórios.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico de alergia medicamentosa é muitas vezes um diagnóstico de probabilidade e a identificação do fármaco causal necessita de grande cuidado e baseia-se essencialmente em critérios clínicos. Só para um número reduzido de toxidermias e de medicamentos, existem testes específicos que podem confirmar o diagnóstico. É importante não estabelecer erradamente o diagnóstico de alergia medicamentosa pois limita futuras intervenções terapêuticas e cria uma ansiedade muitas vezes desnecessária. Porém um diagnóstico correcto de alergia medicamentosa com o tipo de alergia e o(s) fármaco(s) que o indivíduo deve evitar ou proibir pode evitar alergias futuras, muitas vezes bastante mais graves.